O produto deveria ser a nossa maior riqueza, mas demoramos muito para abrir os olhos e investir na qualidade.

Cento e oitenta reais, um quilo de café. Tequila Café. Produzido no Sítio Serra da Careta, em Minas Gerais, a 1,2 mil metros de altitude. A embalagem diz que ele tem “aroma herbal e achocolatado, notas de nozes, chocolate meio amargo, acidez cítrica, corpo aveludado e retrogosto prolongado”.

Citei esse e nem sei se é o mais caro. A loja onde vende se chama TEM, abreviação de torrado e moído, fica na Rua Alagoas, 563, no bairro de Higienópolis, em São Paulo. Minha filha adora café. Comprei para ela. Para mim, qualquer Pilão me satisfaz. 

Sou bem vira-lata para café e já confessei por aqui. Mas eu fico feliz quando vejo uma loja como essa vendendo um produto que deveria ser a nossa maior riqueza. Demoramos muito para abrir os olhos e investir na qualidade.

O mundo passou buzinando. Será que ainda dá tempo de alcançar, ultrapassar e ouvir a música do Airton e algum Galvão gritando que somos os melhores produtores de café do mundo? Acredito que sim. 

Mas o que fazer com um preço desse tamanho? Quantas pessoas neste país podem pagar esse valor para provar um café altamente diferenciado? E a diferença entre o diferenciado e os conhecidos e populares é tão assombrosa que só se justificaria se, ao provarmos o tal, tivéssemos uma iluminação. Não sei qual seja ou seria, mas os seis números da Mega Sena seriam bem-vindos para que pudéssemos comprar mais desses cafés. 

Não vai rolar. Palavras de minha filha: “É muito bom, mas eu, com meu dinheiro, não pago”. Que outros mais abonados possam pagar para que os que produzem com qualidade não desanimem. 

Assim tem sido com todos os bons produtos da gastronomia, com algumas raras exceções. Lembrei agora do vinho e o vinho conseguiu o que o café talvez consiga: os tais bons para o dia a dia. Aqueles de valor moderado e que nos deixam felizes. E que, a exemplo do café, também apresentam notas florais, cítricas, minerais etc. e tais. 

Também sonho com o dia no qual encontraremos produtos orgânicos a preços dos envenenados. Também faz parte do sonho a descoberta de que os envenenados não fazem tão mal quanto alardearam.

Sonhos, como você pode ver, são muitos. Um deles foi realizado: a absolvição do ovo. O mais ousado deles diz respeito aos exercícios físicos. Serão considerados pouco eficientes para a saúde. O mais importante, vão nos alertar os cientistas, é se alimentar com comida de muito sabor, usar muito o cérebro e deixar o corpo sossegado. Quem sabe? 

LEIA A MATÉRIA NA ÍNTEGRA: CARTA CAPITAL